terça-feira, 16 de fevereiro de 2010


Tudo começa na rua, entre um grupo de amigos; Um chute, um passe, um remate que no fim dá golo ou passa ao lado, por pouco.
As ruas ganham cor. Uma corrida rápida acompanha o chamado "cabrito" ou um drible manuseado em poucos segundos. É a alegria do chamado "Desporto-rei" que ganha cada vez mais adeptos por todo o Mundo.
O grupo de amigos "amigos Vs Amigos", numa partida amigável faz das avenidas um autêntico show de bola onde todos os 'participantes' dão o seu melhor e jogam da maneira que aprenderam, sem fronteiras nem restrições. Amigos à parte, jogos à parte, truques à parte, chega uma altura em que jogar entre amigos já não Chega. Partilhar os conhecimentos somente na rua também já nao chega. É ambicionado mais e mais; Até que um dia o jogador desse grupo de amigos é chamado a um clube grande, aquele o Sporting, Benfica ou Porto, não interessa. Chega, presta provas e joga até que acaba por entrar nos júniores e fazer o seu melhor para entrar na equipa principal.
O jovem cresceu, o grupo desmembrou-se, o show de rua deu lugar aos campos gigantescos com dimensões incalculáveis onde se acham umas 'formiguinhas'. O local onde tudo começou, já foi esquecido e agora à que seguir em frente e mostrar ao resto do mundo aquilo que são capazes.
Primeira fase concluída, sair da rua e entrar para um 'grande', chegar à equipa principal também já está, somos jovens chamamos à atenção. "Olheiros" de todo o mundo assistem aos jogos à caça de novos talentos para completar a linha da frente.
O jovem é visto, dá nas vistas, marca e dá a marcar, é chegada a vez de tomar uma decisão.
A rua não bastou, na equipa principal foi a estrela. Será demais pedir um clube fora do seu país? Chegou a altura de pensar e se se queria ser conhecido, então mais vale arriscar e seguir em frente. Começamos num país diferente. Completamente alheios àquilo que conhecemos e tentamos adaptar-nos àquela cultura dominante. Um esforço redobrado além de se dar o melhor em campo também tem que se dar fora dele se não aquilo que se ambicionou até aqui não valeu a pena.
A aventura continua, O Manchester, Chelsea ou tanto faz "caçou-o" pertence à Inglaterra (que dizem que é um óptimo país para começar depois de Portugal). Assim foi, uma vez visto na Inglaterra ambicionamos mais e mais até nos restar somente pedir o MUNDO.
O jogador de rua anónimo, passou agora a ser o "ZÉ" que tem no Futebol profissional uma oportunidade de garantir o futuro longínquo.
Passados 3/4 anos nesta equipa, neste país já não estamos a fazer nada e procuramos novas metas. Damos o nosso melhor trabalhamos e esfolamo-nos todos os dias para atingir sempre o Sucesso.
O "ZÉ" consegui foi transferido para um Real Madrid já aqui ao lado ou até para um Inter de Milão mais um bocadinho ao lado. Somos elegidos o melhor entre os melhores. Conseguimos, o prémio é nosso, o dinheiro já não nos tiram e o prémio muito menos.
Depois do êxito, do sucesso, da fama, do reconhecimento e do dinheiro o que sucede?
Pois bem, já alcançámos o imaginável e o inimaginável entre os melhores dos melhores.
Alcançámos um marco histórico no momento certo, no local certo e à hora exacta, sem tirar nem pôr.
A equipa é do craques; A fama sobe à cabeça, as noitadas aumentam, os gastos ainda mais, no campo não damos o nosso melhor. Não marcamos golos, não produzimos e ainda pior não acertamos na baliza, um cartão amarelo aos 20' minutos outro após o intervalo aos 60' minutos = Cartão vermelho ---» RUA.
A Vida parecia fácil, os amigos pareciam verdadeiros, mas nada disso. Deparamo-nos que estamos num Mundo que antes não nos dizia nada e só aparecia nas revistas e televisões, que cada vez mais passamos a frequentar. Chegou o momento de Pensar.
Abstrair-nos de tudo e encaixarmo-nos no nosso Mundo onde não aparecem flashes nem dinheiro. Chegou a hora de pormos a seguinte questão; Foi para isto que ultrapassámos todos os obstáculos? Pensamos e pensamos.
A resposta surge-nos. Não saímos da rua onde éramos felizes. onde podíamos fazer tudo sem restrições, onde não nos pagavam para podermos fazer um cabrito, onde sem sermos famosos, sem termos tanto éramos humildemente felizes, para chegar a este ponto lamentável. Na rua, o campo era gerido por 'nós' e tinha as dimensões que queríamos, fazíamos milhentos cabritos, não éramos pagos para correr para sim corríamos por gosto e também não havia simplesmente companheiros mas sim amigos de verdade que não tinham a intenção de nos tirar o lugar, mas sim divertirmo-nos todos juntos.
A primeira fase concluída, a segunda também, os prémios foram milhentos, o dinheiro (nem se fala), as festas eram até às tantas e o clube era do mais alto escalão possível. Chegou o momento de assentar, voltar a pensar, voltar a relembrar e voltar a escalar metas. Se calhar foi isso que faltou.
No entanto, aqueles shows de rua foram-se embora e trocados por máquinas de jogar que são pagas aos milhões para fazerem aquilo que são mandadas.
No princípio nunca nos podemos esquecer aquilo que queremos, no meio temos de alcançar aquilo a que nos propusemos e o fim.... bem esse é impossível mas nunca deixar de pensar que afinal de contas...
Tudo começou na RUA!

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